Ciganos mostraram um pouco de sua cultura na DPPR 29/04/2015 - 12:00

Um povo milenar rodeado de mistérios: é assim que muitos enxergam os ciganos. Muitas vezes, o mistério é permeado de preconceitos, construídos durante séculos de perseguições e violências. Buscando combater esses preconceitos e revelar um pouco da verdadeira alegria de ser cigano, a Defensoria Pública do Paraná, através da Edepar e do Grupo de Trabalho de Direitos Humanos, em parceira com a Associação para Preservação da Cultura Cigana (APRECI), realizou na última sexta-feira o evento “Os Assim Chamados Ciganos”, que misturou peça teatral com música, dança e poesia, debate e um lanche com culinária típica cigana.

“Os Assim Chamados Ciganos” é uma peça teatral escrita e apresentada por Claudio Iovanovitch e Neiva Camargo da Silva Iovanovitchi, da APRECI. O título já revela uma questão pouco conhecida: “ciganos” é um termo genérico usado para nomear povos de diversas etnias. No Brasil, existem três: Calon, Sinti e Rom ou Romani, estes últimos a etnia dos representantes da APRECI.

A obra já foi apresentada em diversas cidades do estado e traz reflexões acerca do cotidiano dos povos Romani, como demonstra o relatório “Caravana: Os Assim Chamados Ciganos”, elaborado pela Secretária de Estado da Educação (SEED):

Ser nômade não é uma opção. O nomadismo foi imposto a essa minoria invisível e discriminada, não existindo, até hoje, uma lei específica que os insira junto à sociedade. Ciganos são expulsos pelo simples fato de serem ciganos, não conseguindo se fixar em lugar algum. Acampam onde é permitido, sem estrutura, sem água, luz, saneamento básico. Vivem do que sabem fazer ou do que é permitido: a venda de porta em porta. Muitas vezes se descaracterizam para não serem identificados em função da sobrevivência. Para os ciganos o tempo é ilusão do homem e fronteiras são riscos em mapas que não existem. “O meu calendário não é o seu e a minha geografia não é a sua”, declama o cigano Nuno na peça teatral.

Ao procurar o Sistema Único de Saúde (SUS), não possuem documentos, comprovante de residência, Código de Endereçamento Postal (CEP), e, portanto, não serão atendidos. Então pagam a consulta e o mesmo médico atende de imediato.

Os ciganos marcam audiência com o juiz e aguardam acampados na cidade. Ciganos são suspeitos pelo fato de serem ciganos. Há roubos na cidade e a polícia acusa os ciganos, cortam as barracas e mandam embora. E assim, acontece até os dias atuais, como aconteceu em março de 2014, no município de Prudentópolis (saiba mais aqui). As associações formadas por ciganos de todo o Brasil, acionaram o Ministério Público Federal e comunicaram aos ciganos que não deveriam deixar a cidade. Porém, anoiteceram e não amanheceram, sem explicações.

Ciganos são expulsos de Prudentópolis, que são expulsos de Araucária, que são expulsos da Lapa e não ficam em lugar algum. Dirigem pelas estradas sem documentos e analfabetos, as crianças não frequentam as escolas e a população os ignora por preconceito.


O evento realizado na Defensoria buscou divulgar a cultura cigana e, assim, atender melhor os inúmeros ciganos que necessitam dos serviços prestados pela instituição, especialmente aqueles que estão acampados no município da Lapa, que já recebem atendimento da DPPR (veja as notícias relacionadas abaixo).