Grupo acolhe mulheres em situação de violência no Noroeste 17/12/2015 - 14:10

Elas chegam de todos os cantos, encaminhadas por serviços de apoio municipais, delegacias e Poder Judiciário, isso quando não aparecem por conta própria ou aconselhadas pelos servidores da Defensoria Pública do Paraná (DPPR) em Cianorte, no Noroeste do estado, onde funciona desde abril deste ano o Grupo de Mulheres em Situação de Violência Doméstica. O drama vivido por todas, no entanto, é o mesmo, simbolizado por hematomas, olhares vagos e autoestima lá no chão.

Nos encontros quinzenais, que ocorrem na sede da própria DPPR, as psicólogas Tânia Aldivino e Aline Hoepers, além da assistente social Juscilene Galdino, ajudam mulheres – de 18 a 80 anos e de classes sociais e níveis de escolaridade diversos – a recuperarem o rumo da própria vida. Além do apoio, orientação e acompanhamento psicossocial dado em grupo, há atendimentos psicológicos individuais mensais, com o intuito de trabalhar as demandas particulares.

Ao longo de 2015, o projeto atendeu cerca de 45 mulheres. Em cada encontro, abordou-se uma temática específica, trabalhada por profissionais da Defensoria ou de outras instituições, convidados eventualmente, através de palestras, debates, dinâmicas de grupo, apresentações de material audiovisual e técnicas de sensibilização. “Os temas abordados vão das raízes históricas da violência contra a mulher ao uso de substâncias psicoativas como potencializador da violência”, explica a psicóloga Tânia Aldivino.

Histórias de vida

As histórias relatadas pelas participantes do grupo, permeadas por muito sofrimento e submissão, sensibilizaram mesmo as experientes profissionais envolvidas no projeto. São narrativas de mulheres fragilizadas, carregadas de manifestações de violência doméstica perpetuadas por períodos significativos, conforme explica a psicóloga Aline Hoepers. Muitas, porém, estão superando o trauma com a ajuda do grupo. “As intervenções junto a esses sujeitos [mulheres em situação em violência doméstica] têm afirmado um movimento de resistência e superação frente a tais adversidades, por meio do empoderamento dessas mulheres através da elaboração do sofrimento vivido, assim como por meio do resgate e do fortalecimento de suas potencialidades”, diz a psicóloga.

O projeto encerrou as atividades em 2015, mas elas devem ser retomadas logo no início do ano que vem. “A nova inserção de mulheres no projeto se dará em janeiro de 2016, mas durante todo o ano o grupo estará aberto, caso outras mulheres queiram participar do acompanhamento. Desta forma, o grupo reiniciará em fevereiro de 2016, sendo que os encontros continuarão ocorrendo às quartas-feiras, quinzenalmente, no mesmo horário, das 19h30 às 20h30. Além disso, caso a demanda seja muito excessiva, poderá ser formado outro grupo em período vespertino”, conta a assistente social Juscilene Galdino.

Os planos futuros do projeto incluem ampliar o leque de temas desenvolvidos, as atividades metodológicas e a participação da rede de serviços do município. A experiência em Cianorte também tem despertado o interesse de outros profissionais, que têm buscado informações sobre o trabalho. E mais: recentemente, um artigo escrito pelas psicólogas Tânia e Aline, com base nas suas observações e práticas diárias com o grupo, foi selecionado para integrar o livro “Defensoria Pública, Assessoria Jurídica Popular e Movimentos Sociais e Populares: novos caminhos traçados na concretização do direito de acesso à Justiça”, organizado pela Associação Nacional dos Defensores Públicos (Anadep).

Casos de agressões psicológicas chamam atenção

Um aspecto tem chamado a atenção das profissionais do Grupo de Mulheres em Situação de Violência Doméstica: os casos de maus tratos psicológicos sofridos pelas vítimas. “Foi possível identificar que o tipo de violência mais recorrente nesse grupo é o psicológico, o que pôde ser observado através de manifestações que causaram algum tipo de dano emocional ou diminuição da autoestima dessas mulheres. Em menor incidência, mas também com significativa relevância, foi possível observar a explicitação de violência física, sexual, moral e patrimonial”, relata a assistente social Juscilene Galdino.

“Observou-se com grande emergência a presença de autoestima baixa, sentimentos de desvalorização de si, de incapacidade e impotência; estados psíquicos de medo, tristeza, insegurança e estresse; transtornos psíquicos de ansiedade, depressão e pânico; comportamentos autodestrutivos e tentativas de suicídio”, elenca a psicóloga Tânia Aldivino. “A partir da efetivação das práticas psicossociais junto a mulheres em situação de violência doméstica, através de intervenções individuais e grupais, concebe-se notáveis avanços na autopercepção das mulheres e nas estratégias que elas empreendem para relacionar-se e lidarem com os conflitos emergentes”, pondera a psicóloga Aline Hoepers.

Por essas e outras, o grupo tem sido um importante instrumento de orientação para mulheres nessa situação, além de ser um apoio que possibilita avanços do ponto de vista psicossocial das participantes. “Nesse sentido, há um significativo movimento de transformação no modo de elas se reconhecerem e se colocarem no mundo”, conclui Tânia.

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