Discriminação racial no ambiente corporativo
22/03/2021 - 10:00

Entender a importância da inclusão no ambiente de trabalho significa compreender o respeito e a valorização das diferenças.

Discriminação racial, preconceito de uma etnia ou cultura por acreditar ser inferior ou menos capaz. Por incrível que pareça, essa ainda é uma realidade no Brasil. É comum episódios de pessoas sofrendo ofensas, violência e discriminação em razão da raça. Acontece em diversas situações do cotidiano, como, no transporte coletivo, em uma fila de banco, no supermercado, no ambiente de trabalho e até mesmo em uma abordagem policial.

Segundo dados da pesquisa Datafolha, 22% dos brasileiros disseram já ter sido vítimas de preconceito racial. Destes, 55% eram negros e 30% indígenas. O país está longe de ser uma democracia em termos raciais.

No ambiente corporativo, a discriminação é uma realidade recorrente onde negros e pardos possuem grandes dificuldades para entrar no mercado de trabalho, e quando finalmente estão inclusos no ambiente profissional encontram vários obstáculos para crescer profissionalmente. 

A Convenção nº 111 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) define a discriminação como toda distinção, exclusão ou preferência fundada na raça, cor, sexo, religião, opinião política, ascendência nacional ou origem social, que tenha por efeito destruir ou alterar a igualdade de oportunidades ou de tratamento em matéria de emprego ou profissão.

Para o defensor público e coordenador do Núcleo da Cidadania e Direitos Humanos (NUCIDH), da Defensoria Pública do Estado do Paraná (DPE-PR), Júlio Cesar Duailibe Salem Filho, a solução para a discriminação racial no ambiente de trabalho passa por transformações estruturais da sociedade. “A discriminação racial não é um problema individual, mas sim crônico, estrutural, estando presente nas instituições como um reflexo da sociedade à qual pertence. Dessa maneira, a solução também passa por mudanças estruturais e de mentalidade”, explica ele.

"Há medidas que podem ser pensadas institucionalmente, como cursos, políticas afirmativas de ingresso e participação em atividades a fim de combater a desigualdade substancial. A criação de canais de atendimento e recebimento de relatos, manifestações, denúncias, opiniões e sugestões de membros, servidores (as) e estagiários (as) da empresa”, diz o defensor público.

No Brasil, ao longo das últimas décadas foi necessária a criação de mecanismos jurídicos para assegurar a igualdade entre todos. Fruto da Constituição Federal de 1988, a lei nº 7.716/89 passou a ser um avanço importante, pois define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. Institui o Estatuto da Igualdade Racial e busca combater a discriminação e as demais formas de intolerância étnica. 

A diversidade no ambiente de trabalho é fundamental para a aprendizagem sobre o respeito e a tolerância, favorecendo as relações, melhorando a interação da equipe, e estimulando a aceitação entre os colegas. “É necessária para desconstruir o modelo tradicional, histórico que mantém estruturas de poder, pois constrói uma sociedade livre, justa e solidária, e promove o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”, reforça o coordenador.

“A empresa deve se preocupar com a segurança e saúde, inclusive mental, de seus funcionários no ambiente de trabalho, responsabilizando-se pelos riscos da atividade econômica desenvolvida. É preciso perceber que nenhum ato de discriminação racial, dentro ou fora do ambiente de trabalho deve ser tolerado ou fomentado”, completa o defensor público.

É importante que existam leis que proíbam condutas discriminatórias e que promovam a igualdade, porém entender a importância da inclusão na sociedade e no espaço corporativo significa compreender o respeito e a valorização das diferenças. Sendo certo que todo ser humano é merecedor de respeito e consideração, devendo todos serem tratados de forma igual.

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