Dia Nacional da Visibilidade Trans: entrevista com a ouvidora-geral da DPE-PR, Karollyne Nascimento 29/01/2023 - 13:00
O Brasil segue sendo o país mais violento para pessoas LGBTQIA+ em todo o mundo. Dados recentes de um levantamento feito pelo Grupo Gay da Bahia (GGB) revelam que, em 2022, 256 pessoas pertencentes a essa comunidade morreram por aqui apenas por serem quem são, o que representa uma morte violenta a cada 34 horas.
Para marcar este Dia Nacional da Visibilidade Trans, conversamos com a ouvidora-geral da DPE-PR, Karollyne Nascimento, a primeira mulher trans a ocupar este posto nas Defensorias Públicas do Brasil. Ela nos contou sua experiência de como foi sua infância e como é ser uma pessoa trans em nossa sociedade, assim como quais são os desafios que ainda temos que superar para garantir às pessoas trans o mínimo de que todo ser humano precisa e merece: dignidade.
1) Como foi ser uma menina trans e como é ser uma mulher trans hoje?
Quando entendi minha identidade, lá pelos anos 1980, ainda nem se falava sobre transexualidade e, sim, sobre travestilidades, o dito ‘O TRAVESTI’, ainda no masculino. Nesta época eu era lida como uma criança ‘viada’, ‘gayzinho’, ‘bichinha’, ‘veadinho’, entre outros adjetivos pejorativos que a sociedade sempre usou para classificar pessoas gays, principalmente quando ainda não performavam sua identidade travesti. Mas minha adolescência foi super tranquila, vistos os desafios de hoje, nessa sociedade que não evoluiu junto com a diversidade, infelizmente.
2) Como é ser uma mulher trans no mercado de trabalho?
Este é um tema muito desafiador. Estar ocupando um lugar no mercado de trabalho formal ainda é para pouquíssimas pessoas transgênero, haja vista as dificuldades impostas a essas pessoas devido à sua identidade não ser condizente com o que foi culturalmente colocado e ensinado pela sociedade. Hoje, ainda existe muita recusa das empresas em associarem suas marcas a estas identidades, por vários motivos, como medo de cancelamento e medo de repercussão negativa, entre outros. Infelizmente, as poucas pessoas que conseguem acessar esses espaços precisam enfrentar nestes ambientes situações hostis e de constrangimentos pelo fato de serem quem são.
3) Quais são as principais políticas públicas que devemos implementar para garantir uma vida digna para a população trans?
Primeiramente, o respeito ao nome, independentemente de ser ou não retificado [na certidão de nascimento].
Oportunizar o acesso a espaços públicos, onde qualquer pessoa pode adentrar ou usar, sem serem motivo de chacotas ou mesmo impedidos de ali estarem.
A garantia de usufruir o direito de realizar suas necessidades fisiológicas em espaços seguros e de acordo com sua identidade.
E mais que tudo: serem reconhecidas como cidadãs(aos) dentro de uma sociedade que faz questão de colocá-las na invisibilidade e à margem, expostas a todas as vulnerabilidades.