Defensoria Pública do Paraná participa de debate com jovens que cumprem medidas socioeducativas 11/11/2021 - 08:50

A Defensoria Pública do Estado do Paraná (DPE-PR) participou no último dia 15/10, juntamente com a Defensoria Pública da União (DPU), do projeto “Se liga, RAPaz”, promovido pelo Departamento de Atendimento Socioeducativo da Secretaria da Justiça, Família e Trabalho do Estado do Paraná, e realizado pelo Centro de Socioeducação - Cense Londrina II.

Representando a DPE-PR, participaram do evento o psicólogo Clodoaldo Porto Filho e o defensor público Cauê Bouzon Ribeiro, que atuam em Umuarama. O projeto ‘Se liga, RAPaz” é realizado online. Na ocasião, em torno de 60 meninos e meninas que cumprem medidas socioeducativas e convidadas(os) se reuniram para debater o trecho da música “Diário de um Detento”, que pertence ao álbum “Sobrevivendo no Inferno”, do grupo de rap nacional Racionais MC’s. O encontro permitiu que os jovens e as jovens discutissem sobre a obra do grupo, conhecido por suas críticas sociais. 

O projeto “Se liga, RAPaz” foi criado em maio de 2020, em meio à pandemia da Covid-19, e funciona como um atendimento em grupo para adolescentes internados(as) no Cense Londrina II. A iniciativa utiliza a cultura do hip hop e do rap como um instrumento de reflexão junto às(aos) adolescentes, apostando no seu potencial de promover desenvolvimento do pensamento crítico sobre contextos sociais, ideologias e vivências pessoais. 

Esses encontros são realizados uma vez por mês, e os organizadores tentam unir debates sobre letras musicais, palestras e conversas, sempre com o objetivo de utilizar as letras musicais como um instrumento socioeducativo para sensibilizar as(os) adolescentes com uma linguagem que lhes é familiar.

O psicólogo da Defensoria do Paraná, Clodoaldo Porto Filho, relata que além do debate do qual participou, também já presenciou batalhas de rimas e processos de criação de letras de Rap pelas(os) jovens. “É uma honra participar de alguma forma desses projetos e ações, pois percebemos o quanto eles têm sido importantes e significativos para estes adolescentes, ainda mais neste momento de pandemia que estamos passando”.

O servidor da DPE-PR destaca como tal gênero musical tem a capacidade de dialogar com o que tais jovens vivenciam no seu cotidiano. “O Rap é uma ferramenta poderosa no processo de transformação de vida desses adolescentes, pois dialoga com a realidade vivenciada pela grande maioria deles. Especificamente, a música Diário de um Detento trata de uma das páginas mais infelizes da nossa história, que foi o Massacre do Carandiru, o que por si só já faz a discussão da letra deveras relevante, mas fala também de privações, principalmente da privação de liberdade e o sentimentos que ela acarreta, e que é sentido diariamente por estes adolescentes em cumprimento da medida socioeducativa de internação.”. 

A participação no encontro, para o defensor Cauê Bouzon Ribeiro, foi engrandecedora. “Os jovens e nós debatemos temas profundos como seletividade do sistema penal, desigualdade social e condições degradantes das prisões brasileiras. O encontro agregou muito ao meu trabalho, ao perceber que esses jovens podem, querem e conseguem ser integrados à sociedade, e que a cadeia e o crime não são os únicos caminhos possíveis. A Defensoria presente nesse tipo de encontro pode ser a desnecessidade da Defensoria em um atendimento criminal quando este jovem for adulto.”

O feedback dos jovens e das jovens foi algo que chamou a atenção do defensor, que pôde perceber a importância que momentos como esse têm na vida dos adolescentes. “Os jovens realizaram diversas perguntas muito interessantes e reflexivas durante o encontro, tais como: ‘Você acredita no relato de um detento?’ e ‘Como você vê um preso?’ e ainda cantaram músicas autorais com letras super profundas e de uma maturidade impressionante. Uma das manifestações mais impactantes foi a de uma jovem que se encontra internada e que relatou que, logo que chegou à unidade de internação, não acreditava na proposta da medida socioeducativa e nem nos profissionais que ali trabalhavam, e que hoje mudou, amadureceu e dá muito valor ao trabalho dos educadores sociais, psicólogos e assistentes sociais da unidade”, relatou o defensor público.

Também participaram do debate o defensor público federal Rodrigo Alves Zanetti, a assistente social do Cense Londrina II Andressa Ferreira Candido e a assessora técnica do Departamento Socioeducativo (DEASE) da Secretaria de Justiça, Trabalho e Família do Estado do Paraná Solimar de Gouveia.

GALERIA DE IMAGENS