Ciclo da violência: saiba identificar as fases de um relacionamento abusivo 16/08/2021 - 14:00

Na última terça-feira (10), foi ao ar o segundo episódio do podcast "Conversa com o MP”, que teve a participação da psicóloga da Defensoria Pública do Estado do Paraná (DPE-PR), da Casa da Mulher Brasileira (CMB), Jéssica da Silva Mendes. A primeira edição do podcast, produzido pela Assessoria de Comunicação do Ministério Público do Paraná (MPPR), é a série “Agosto Lilás” que trata do ciclo de violência e dos tipos de violência contra a mulher.
A mulher que vive o ciclo da violência enfrenta momentos de agressividade do parceiro, caracterizados por ofensas verbais, críticas, seguidos de agressões físicas, como tapas, socos e empurrões, até a chegada da fase da calmaria, em que o agressor pede desculpas, implora por perdão e promete que aquilo não irá se repetir.
Para compreender o ciclo de violência é preciso entender também o que é e como funciona esse fenômeno. De acordo com a psicóloga, o termo ciclo é utilizado para enfatizar o fato da violência doméstica e familiar contra a mulher não ser episódica, ou seja, trata-se de um fenômeno persistente que se estabelece como um padrão na relação. “Essa rotina da violência geralmente caracteriza-se por 3 fases principais: na primeira fase o conflito se instala, aumentando a tensão entre o agressor e a vítima, costuma ser marcada pela violência verbal, com xingamentos, ofensas e até ameaças. Na segunda fase, tem-se a agudização do conflito e o emprego de formas mais contundentes de violência e a explosão do agressor é seguida de violência física. A terceira e última fase é representada pela manifestação de arrependimento, de pedidos de desculpas e de promessas do agressor de que aquilo não irá se repetir”.
"Essa dinâmica é responsável, em muitas situações, pela permanência da mulher na relação, visto que essa alternância acaba nutrindo expectativas na mulher de que haverá uma real mudança de comportamento do agressor. Cabe reforçar, portanto, que a violência doméstica não é um evento isolado, ela se instala como modelo de relação e tende a se agravar gradualmente”, explica Jéssica.
A Defensoria Pública é um instrumento de garantia da igualdade material entre homens e mulheres, mediante a atuação extrajudicial e judicial, a partir de uma perspectiva interdisciplinar, que reconhece os limites do direito e toma a violência de gênero como fenômeno social persistente, generalizado, escalonado e potencialmente letal.
“Com uma atuação interdisciplinar a DPE-PR possibilita atenção especializada às demandas complexas que atravessam e são atravessadas pelas desigualdades de gênero. Nesse sentido, é possível dizer que o atendimento multidisciplinar tem por objetivos principais a ampliação do sentido de justiça e potencialização das estratégias para seu acesso, tendo como protagonista a mulher em situação de violência doméstica e familiar”, diz Jéssica.
A Psicologia oferece instrumentos extremamente relevantes ao manejo de situações de violência contra a mulher. Por esse motivo, os/as psicólogos/as estão inseridos/as nos mais diversos serviços e equipamentos que integram a rede de proteção à mulher, seja na saúde, na assistência social ou no próprio sistema de justiça. “O objetivo principal de qualquer intervenção feita por este profissional deve ser a emancipação dessas mulheres. Para isso, o/a profissional deve preservar o protagonismo dessas mulheres em toda e qualquer estratégia que venha a ser empregada, respeitando a autonomia da vontade delas. O papel do/a psicólogo/a é instrumentalizar essa mulher para melhor compreender a violência de gênero, ampliar sua consciência crítica acerca de tal fenômeno e, a partir desse ponto refletir sobre formas de proteção”, esclarece a psicóloga.
A sede da Defensoria Pública na Casa da Mulher Brasileira promove ações continuadas com o objetivo de dar visibilidade ao tema. "Participamos de eventos e iniciativas que visam a educação em direitos, realizadas em parceria com a Aeronáutica e instituições de ensino. Também buscamos contribuir com a qualificação do serviço prestado pela Defensoria Pública às mulheres em todo o estado, colaborando com a formação de membros/as, servidores/as e estagiários/as. Um exemplo disso é a participação da nossa equipe no curso "A Perspectiva de Gênero no Atendimento às Mulheres pela Defensoria Pública do Paraná", promovido pelo Nudem, conta Jéssica.