Projeto “Mulheres, o cárcere e a saudade” busca resgatar vínculos entre mulheres em privação de liberdade e seus familiares 18/04/2022 - 16:10

A Defensoria Pública do Estado do Paraná (DPE-PR) em Ponta Grossa retomou em fevereiro deste ano o projeto “Mulheres, o Cárcere e a Saudade”, realizado pela primeira vez em 2016. O objetivo da iniciativa é resgatar os vínculos afetivos entre as mulheres em privação de liberdade na Cadeia Pública Hildebrando de Souza e seus familiares. Realizado em parceria com o Departamento de Polícia Penal do Estado do Paraná (DEPPEN), a direção da Cadeia Pública e o Conselho da Comunidade de Ponta Grossa, o projeto atende atualmente aproximadamente 40 mulheres. Em 2016, foram atendidas cerca de 60 mulheres.

“Mulheres, o Cárcere e a Saudade” é realizado pela equipe do Centro de Atendimento Multidisciplinar da sede de Ponta Grossa, composta pelas assistentes sociais Ana Letícia de França, Cristina Sant’Ana de Oliveira, Maria Stella Orlandini e Evelyn Matioski de Lima, e pela psicóloga Patrícia Duda. São estas profissionais que realizam as entrevistas com as mulheres e coletam as informações para fazer o contato com seus familiares. Após o contato, o próximo passo é pedir que eles enviem cartas, fotos e vídeos, que são entregues e apresentados às mulheres na Cadeia. São atendidos grupos de sete mulheres a cada 15 dias.

“O momento da entrega dos materiais é sempre de muita emoção, pois elas têm a oportunidade de rever os filhos, pais ou outros familiares que não veem há muito tempo, saber como estão, e também podem, em seguida, escrever uma carta ou gravar um vídeo para esses familiares. Elas costumam ficar muito emocionadas e gratas com as atividades do projeto”, explica a psicóloga Patrícia Duda. Para ela, essas ações também ajudam a diminuir a ansiedade das mulheres, causada muitas vezes pela falta de informações sobre os familiares. 

“Estando mais tranquilas dentro da unidade, podem até mesmo ser evitados conflitos, problemas disciplinares que irão interferir negativamente no seu processo. Mas eu vejo que a parte extrajudicial, em relação à saúde mental delas e ao fortalecimento das redes de apoio, certamente é o maior benefício do projeto”, avalia a servidora.

Violência Doméstica - Em março, o projeto também realizou uma ação em alusão ao Mês da Mulher, onde todas as mulheres participaram de uma oficina sobre Violência doméstica e a Lei Maria da Penha. Por meio de oficinas, foram debatidos os tipos de violência, realizados exercícios para a identificação dessas violações, e também apresentados os serviços que podem oferecer suporte e atendimento para as mulheres em situação de violência doméstica. 

As histórias apresentadas pelas mulheres marcaram a equipe, como a de uma presa que, após sofrer anos de violência por parte do marido, e temendo ser vítima de feminicídio, acabou assassinando-o em legítima defesa. A filha da presa também vivia em situação de violência, o que preocupava a mãe. “Foi realizado contato com essa filha para saber se ela necessitava de algum tipo de ajuda, e para prestar informações à sua mãe. A filha relatou ter procurado os órgãos competentes e estava tendo suas demandas atendidas e, ciente da preocupação de sua mãe, realizou uma web visita para tranquilizá-la”, conta a psicóloga.

A ação foi realizada pela assistente social Evelyn Matioski de Lima e pela psicóloga Patrícia Duda, com a participação do defensor público Julio Cesar Duailibe Salem Filho, coordenador da sede de Ponta Grossa. 

“A participação das detentas na oficina foi muito positiva, elas apresentaram muitas perguntas sobre o tema, relatos de situações de violência que elas mesmas e outras familiares vivenciaram, e relataram que, se tivessem tido acesso a essas informações antes, talvez algumas situações pudessem ter sido evitadas”, explica a psicóloga.

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