Ouvidoria Geral-Externa da DPE-PR realiza evento em alusão ao Julho das Pretas 22/07/2022 - 17:57

O evento contou com palestra da pesquisadora Andressa Ignácio da Silva e promoveu debate sobre vivência de mulheres negras para usuárias da DPE-PR

A Ouvidoria Geral-Externa da Defensoria Pública do Estado do Paraná (DPE-PR) realizou, nesta sexta-feira (22/07), a roda de conversa “Mulheridades Negras, Resistência, Subjetividade e Dororidades” para marcar o "Julho das Pretas". O objetivo do evento foi promover um espaço onde as mulheres negras pudessem ser as protagonistas desse debate e discutir as questões que as afetam diretamente, e para que se sentissem acolhidas e representadas junto à instituição. 

O Julho das Pretas foi criado como uma ação organizada para dar destaque à luta das mulheres negras contra a opressão racial e de gênero que impacta suas vidas, promovendo a maior participação delas na política e em outras áreas da sociedade, com foco na superação das desigualdades vivenciadas por elas. 

O mes reúne várias datas importantes para o movimento feminista negro que são comemoradas no mesmo dia, em 25 de julho: o "Dia Nacional da Mulher Negra" e também o "Dia Nacional de Tereza de Benguela", instituídos em homenagem à líder quilombola que viveu no Brasil, e sua luta pela independência do povo negro, assim como o Dia Internacional da Mulher Negra Latinoamericana e Caribenha, que completa 30 anos neste ano. Esta última data nasceu de um encontro realizado em Santo Domingo, na República Dominicana, em 1992, onde mulheres negras se reuniram para lutar, de forma unificada, contra o racismo e o machismo. Essa reunião demandou e conseguiu com que a Organização das Nações Unidas (ONU) reconhecesse a luta contra as opressões raciais e de gênero e instituísse a data comemorativa.  

A organizadora do evento, Ane Carolina Santos Nascimento, que é servidora da Ouvidoria, comenta que o objetivo da roda foi "garantir o protagonismo das mulheres negras nesta data", discutir o feminismo negro e também como o machismo estrutural afeta os corpos das mulheres negras. Para a servidora, organizar um evento para abordar as questões raciais e de gênero em uma sociedade que não valoriza a luta das mulheres negras é sempre um desafio. 

"Sendo uma mulher negra, foi importante organizar um evento para que mulheres negras possam trazer suas questões, possam apresentar as suas dores de forma objetiva e subjetiva, contextualizando com o momento social que nós estamos vivendo, onde especialmente os corpos de mulheres negras são cada dia mais desumanizados e nossas dores suprimidas”.

As mulheres negras são as mais expostas à violência de gênero, sendo que 62% das vítimas de feminicídio no Brasil são negras, em contraposição 37,5% de mulheres brancas, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2022. Nos demais casos de mortes violentas intencionais, a disparidade é ainda maior: 70,7% das vítimas são negras, enquanto 28,6% são brancas. O sofrimento dessas mulheres, entretanto, é invisibilizado na sociedade, por isso, a ideia do evento foi colocar luz sobre o assunto.

"Nós abrimos um espaço de acolhimento para as mulheres, um espaço onde as dores são consideradas, onde a subjetividade é considerada, onde a escuta é humanizada", diz a servidora.

A escolha dos temas foi feita junto da palestrante convidada, a professora, mestra e doutoranda Andressa Ignácio da Silva, que abordou como a sociedade, o machismo e o racismo atingem os corpos das mulheres negras, as limita e tenta calá-las.

"Pensar em como falar de mulheres, de dororidades, é uma questão importante quando a gente pensa na efetivação de direitos da população negra, em especial de mulheres pretas. Então, a Defensoria Pública também é um espaço importante para refletir sobre como o Estado pode agir como garantidor de direitos e como o Estado também pode agir, em especial essa instituição [a Defensoria], fazendo frente às violações de direitos humanos, de direitos básicos, de direitos fundamentais a que as mulheres pretas são submetidas cotidianamente", afirmou Ignácio. 

A pesquisadora comenta que o Brasil, como um país que é constituído em "sua maioria por mulheres e, dentro dessa maioria, por mulheres pretas", é imperativo que, para ser de fato democrático, as mulheres negras precisam ter os seus direitos garantidos.

Para a decisão dos temas a serem abordados, Ignácio se baseou em conceitos que considera importantíssimos para a discussão sobre o tema, como dororidades, mulheridades e discussões a partir da matriz do feminismo negro, com ideias de intelectuais negros e negras. A forma da reunião, como uma roda de conversa, também foi pensada para contribuir na troca de ideias. 

"[Esse formato de roda] faz muito sentido para a população negra, acho que a própria configuração de roda é uma coisa muito afro. Roda de samba, roda de jongo, roda de axé. Gosto bastante dessa configuração, porque foi dessa forma, participando de espaços de troca com as minhas mais velhas, com os meus mais velhos, outros intelectuais e ativistas, que eu me constituí enquanto intelectual, enquanto pesquisadora".

O encontro contou com dinâmicas e troca de experiências das participantes e dos participantes presentes. Andressa Ignácio comenta sobre como foi participar da uma atividade ligada ao Julho das Pretas na Ouvidoria: "É com grande alegria que eu recebi esse convite de uma mulher preta trabalhando na Defensoria, o que eu acho muito importante, também. Nós precisamos estar nesse espaço de poder, nesses espaços institucionais. Precisamos romper com as estratégias e as dinâmicas do racismo institucional. Então, é uma grande honra estar aqui. Foi um papo bastante produtivo, a gente pôde trocar e também consolidar a Defensoria como uma aliada no Julho das Pretas, nas pautas das mulheres negras junto ao Estado."



 

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