Em maior edição da história, "Casando Direitos" celebra união de 23 casais e realiza primeiro casamento homoafetivo do projeto em Francisco Beltrão 12/12/2025 - 17:16

A última edição do projeto "Casando Direitos" em 2025 foi marcada por recordes, simbolismo e celebração da diversidade. Na última quarta-feira (10), data que marca o Dia Internacional dos Direitos Humanos, a Defensoria Pública do Estado do Paraná (DPE-PR) oficializou a união de 23 casais na Penitenciária Estadual de Francisco Beltrão (PEFB), no sudoeste do estado. Esta foi a 7ª edição geral do projeto e a quinta realizada apenas neste ano. A iniciativa é viabilizada por um termo de cooperação com a Associação dos Registradores de Pessoas Naturais (ARPEN) e o Fundo de Apoio ao Registro Civil de Pessoas Naturais (FUNARPEN). O objetivo é assegurar direitos existenciais e fundamentais, garantindo que o casamento civil seja exercido plenamente por todas as pessoas, conforme assegura a Constituição Federal.

Com a cerimônia em Francisco Beltrão, a iniciativa encerra o ano alcançando a marca de 71 casais oficializados em todo o Paraná. O evento trouxe ineditismo para o projeto: pela primeira vez, foi realizada uma união homoafetiva. Outro destaque da cerimônia envolveu uma articulação logística para unir um casal onde ambas as partes estão privadas de liberdade. A noiva, que cumpre pena na Cadeia Pública de Dois Vizinhos, foi escoltada até a penitenciária em Francisco Beltrão para oficializar o matrimônio com o noivo, detido na unidade local.

Presente na cerimônia, o idealizador do projeto e coordenador auxiliar do Núcleo da Política Criminal e da Execução Penal (NUPEP), defensor público Pedro Bruzzi Ribeiro Cardoso, destacou o crescimento da iniciativa.

"O ano de 2025 foi um ano de grande avanço no projeto Casando Direitos. Prova disso é que, neste ano, expandimos o projeto e realizamos o casamento em quatro regionais distintas: Cascavel, Londrina, Umuarama e Francisco Beltrão", afirmou Bruzzi.

O defensor também ressaltou o caráter inclusivo das ações. "Contamos com o ineditismo de realizar o casamento entre duas pessoas privadas de liberdade na Penitenciária Estadual de Campo Mourão e, nesta data, o primeiro casamento homoafetivo do projeto em Francisco Beltrão. Fatos que demonstram que o Casando Direitos contempla todos aqueles que querem exercer o seu direito constitucional de constituir família".

 

Ressocialização e apoio institucional

O diretor da PEFB, Alessandro Bezerra da Cunha, recepcionou o evento, que contou com a presença do coordenador regional da Polícia Penal, Antônio Marcos Camargo de Andrade. Para o coordenador, a iniciativa fecha o calendário de forma positiva. "O Casando Direitos da DPE é mais um grande evento na Polícia Penal do Paraná e que se soma a um ano repleto de realizações", disse ele. 

Pela Defensoria, o coordenador da sede em Francisco Beltrão, Renato Martins de Albuquerque, acompanhou as celebrações. A sociedade civil esteve representada pelo presidente do Conselho da Comunidade de Francisco Beltrão, Antônio do Caz.

A juíza Divangela Précoma Moreira Kuligowski, da Vara de Execuções Penais e Corregedoria dos Presídios, enfatizou o impacto social do ato. "Realizar um casamento coletivo dentro da Penitenciária vai muito além de um ato simbólico: é a reafirmação de que os vínculos afetivos e familiares têm papel essencial na ressocialização. É bonito perceber que, mesmo em um ambiente de privação de liberdade, há espaço para celebrar o amor e a dignidade", avaliou a magistrada.

 

Vidas transformadas

Por trás dos números recordes, a cerimônia celebrou histórias de reencontro e resistência. Foi o caso de Fábio e Bruno (nomes fictícios), protagonistas da primeira união homoafetiva da história do projeto. O casal se conheceu enquanto ambos cumpriam pena. "Foi amor à primeira vista. Num piscar de olhos nós já estávamos juntos", contou Fábio.

Para ele, a data teve duplo significado: o casamento foi celebrado exatamente no dia em que completa um ano de liberdade. "Estou muito grato. É um sonho que se realiza e também serve para mostrar para a sociedade que dois homens também podem se amar", disse.

Já para Vânia e Valter (nomes fictícios), o casamento selou uma união que já dura 18 anos e gerou duas filhas. O caso demandou uma logística de segurança pelo fato dos dois estarem privados de liberdade.

"Este tempo distante serviu para refletir bastante sobre o que é importante e a quem devemos dar valor, as pessoas que amamos e nos amam", refletiu Valter. Para Vânia, a oficialização marca um ponto de virada. "É um recomeço para as nossas vidas", contou.

 

Bastidores e organização

O Conselho da Comunidade de Francisco Beltrão viabilizou a contratação da decoração, além dos alimentos servidos aos convidados. A cerimônia contou ainda com a contribuição voluntária do pastor Darci Furtado, da maquiadora Tere e do violinista Fábio Girardello.

A organização geral foi liderada pela equipe da Assessoria Especial para Mutirões de Atendimento (AEMA), coordenada pela defensora pública Mariana Mantovani Monteiro. A articulação prévia contou com o trabalho da residente jurídica Andressa Carvalho Lopes, enquanto a condução das atividades in loco ficou a cargo da assessora Giovanna Sara Ferreira da Silva e da relações públicas Janaína Ferreira dos Santos.

Os atos civis foram celebrados pelo Juiz de Paz João Carlos Rodrigues e oficializados pelo cartorário Arion Cavalheiro, auxiliado por Juliana Cristina Laufer Lima.

 

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