Aos 42 anos, usuário da Defensoria Pública do Paraná recebe RG pela primeira vez na vida 29/08/2023 - 15:44
O usuário da Defensoria Pública do Estado do Paraná (DPE-PR) Ademir Rodrigues, de 42 anos, recebeu, na manhã desta segunda-feira (28/08), pela primeira vez, um documento de identidade, o RG. A entrega concluiu um procedimento de assistência jurídica gratuita para intermediar a emissão de documentos pessoais, um serviço oferecido pela instituição. O ato é resultado do trabalho da sede da DPE-PR em Colombo, que também atuou para obter a segunda via da certidão de nascimento de Rodrigues. No entanto, o defensor que realizou o atendimento, Pedro Martins, não contava com uma história surpreendente, descoberta durante o atendimento.
O usuário da DPE-PR, conhecido como Bandi, não via a própria família há 28 anos. De acordo com Martins, há cerca de dois meses, o Núcleo da Cidadania e Direitos Humanos (NUCIDH) da DPE-PR foi procurado pelo assistente social de uma casa de acolhimento de pessoas em situação de rua em Colombo para ajudar na identificação de um dos acolhidos. Por envolver um morador de Colombo, onde a instituição está presente desde o início do ano, o caso foi encaminhado à sede da instituição no município. A partir de então, o defensor passou a conversar com Rodrigues e descobriu seu nome completo e o nome da mãe dele, que possui alguns problemas de saúde e tem dificuldade para lembrar de informações do seu passado.
“Eu comecei a acessar três sistemas de informação que temos em razão dos convênios da Defensoria com outras instituições. Um deles nos dá a chance de ver certidões de nascimento, de óbito e outras informações da área de Segurança Pública, como o Infoseg e o sistema do Departamento de Trânsito do Paraná”, comentou. Assim, depois de descobrir o nome da mãe do usuário, Martins conseguiu localizar a certidão de nascimento dele.
Ainda que o serviço da Defensoria estivesse já praticamente concluído, a Defensoria foi além e conseguiu localizar a família de Rodrigues. Parte deles mora em Foz do Iguaçu, outros na região de Curitiba e também em Itapoá, litoral catarinense. Assim que souberam da localização de Rodrigues, no dia 8 de agosto, mais de 20 familiares compareceram à casa de acolhimento para reencontrá-lo.
Rodrigues desapareceu em 1995, depois de sair da escola, em Campina Grande do Sul, na região da capital. Na época, seus irmãos, que estudavam no mesmo colégio, foram embora para casa e Rodrigues avisou que iria mais tarde para casa. Nunca mais foi visto. Naquele mesmo ano, foi abrigado na casa de acolhimento em Colombo onde passou todos esses anos. Desde então, segundo o defensor, os profissionais da casa tentaram identificá-lo sem sucesso, inclusive com a ajuda de outros órgãos, até buscarem, por fim, assistência da Defensoria.
“Ele saiu da escola e decidiu fugir com um amigo. Não sei qual o motivo. Nunca soubemos. O amigo dele voltou para casa, mas o Ademir ficou perdido. A gente não teve mais notícia dele”, contou o irmão mais novo de Rodrigues, Tiago Felipe Rodrigues de Lima, que viajou de Foz do Iguaçu, onde mora, para reencontrar o irmão. Para ele e para a família, o reencontro foi um presente.
“Meu Deus do céu, foi muita alegria, foi um presente de Deus, na verdade. A gente orou, buscou. O que doía era não saber a notícia, se ele estava vivo, se ele estava morto, se ele estava passando bem, se ele estava passando por necessidades. Procuramos por ele durante muito tempo. Até uns anos atrás, nós ainda o procurávamos”, explicou o irmão de Rodrigues.
De acordo com o defensor Pedro Martins, agora, com o RG entregue, a Defensoria ajudará o usuário a ser inserido em programas sociais voltados a pessoas em situação de vulnerabilidade. Rodrigues preferiu, por enquanto, permanecer na casa de acolhimento onde viveu a maior parte de sua vida. “Eu posso dizer que Deus me viu. Hoje, Deus me deu uma nova vida, uma nova história. Posso já seguir em frente. A gente vai buscar uma nova história, seguir em frente”, afirmou Rodrigues, emocionado.